EBD – Lição 3: O comportamento dos salvos em Cristo
INTRODUÇÃO
Os salvos em Cristo não podem se comportar de qualquer maneira, isso porque a vida do crente demanda um procedimento ético. Na lição de hoje trataremos a esse respeito, destacaremos, a princípio, a consistência, a cooperação e a confiança como características do verdadeiro cristão. Em seguida, mostraremos as marcas espirituais com vistas à unidade do Corpo de Cristo.
1. A CONDIÇÃO DOS SALVOS EM CRISTO
Os seguidores de Jesus são chamados discípulos e devem carregar a cruz do discipulado (Mt. 16.24). Reconhecemos a condição de membros da família de Cristo, filhos do mesmo Pai (Fp. 1.1-11), e de servos com a responsabilidade de partilhar o evangelho (Fp. 1.12-26), mas somos também soldados, em uma batalha espiritual, em defesa da fé. A esse respeito destacou Judas, em sua Epístola, exortando os crentes a pelejarem pela “fé que uma vez foi entregue aos santos” (Jd. 3). Estejamos alerta, pois, conforme advertiu Paulo a Timóteo, a apostasia dos últimos dias da igreja já é evidente (I Tm. 1.11). A resposta da igreja a essa secularização é guardar o tesouro espiritual que fora confiado a Paulo, e que posteriormente ele o repassou a Timóteo (I Tm. 6.20), tendo este a responsabilidade de levá-lo adiante (II Tm. 2.2). Esse tesouro espiritual não é apenas uma tradição humana, mas o próprio evangelho, que deve ser ensinado às próximas gerações, a fim de que essas permaneçam fieis aos princípios revelados na Palavra de Deus (II Tm. 3.16). Não podemos abrir mão da “sã doutrina”, isto é, a ortodoxia, pois é a partir desta que surge o bom comportamento, a ortopraxia. Há quem defenda, inclusive nas igrejas evangélicas, um evangelho prático, destituído da doutrina bíblica. Esses pragmáticos argumentam: “não importa no que você acredita, contanto que faça o que é correto”. Mas essa premissa não tem qualquer fundamentação escriturística, pois os cristãos devem viver a partir daquilo que aprenderem, um discípulo não pode se basear em outro ensinamento senão o de seu Mestre (Jo. 15.12-14). O pragmatismo evangélico está conduzindo muitos a “fazerem o que dá certo”, não o que “é certo”. Nessa guerra espiritual precisamos recorrer às armas cristãs, que são poderosas em Deus (II Co. 10.4), mais especificamente a Palavra de Deus (Hb. 4.12) e a oração (Ef. 6.11-18).
2. CONSISTÊNCIA, COOPERAÇÃO E CONFIANÇA
Paulo dá aos crentes filipenses algumas estratégias a fim de que esses sejam exitosos nesse combate. A primeira delas é a consistência, eles deveriam se portar “dignamente conforme o evangelho de Cristo” (Fp. 1.27). Não podemos nos esquecer de que somos “cidadãos do céu”, e como tais devemos nos comportar. Por isso, enquanto estivermos na terra, devemos agir como pessoas que pertencem ao céu (Fp. 3.20). A igreja é embaixadora do Reino de Cristo na terra, por isso deve agir em conformidade com o seu chamado (Ef. 4.1), agradando ao Senhor em tudo (Cl. 1.10). Nossas vidas devem ser um livro aberto, mais precisamente, cartas abertas, que ninguém tenha do que nos acusar (II Co. 3.2). Devemos usar as palavras para pregar, mas também as nossas vidas. Nossas expressões devem ser endossadas pelo nosso comportamento. Esse é o princípio cristão para que não haja discrepância entre a ortodoxia e a ortopraxia. Em Fp. 1.27 Paulo faz uso de uma metáfora atlética para ressaltar o valor do comportamento cristão. Ele admoesta aos irmãos para que combatam “com o mesmo ânimo pela fé do evangelho”. Conforme identificamos em Fp. 4.2, havia desavenças na igreja de Filipos. Esses partidarismos também existiam na igreja de Corinto, resultando em divisão (I Co. 3.4-6). O Apóstolo usa, nesse trecho da epístola, o sufixo syn, que em grego dá ideia de trabalho em conjunto. O termo é synathleo, considerando que os crentes deveriam permanecer juntos, como fazem os atletas em uma disputa olímpica. Os jogos de revezamento ilustram bem essa verdade, pois o último esportista somente poderá completar sua missão se os outros da sua equipe cooperarem. É problemática quando uma igreja sofre da síndrome de Diótrefes, as pessoas querem sempre ser umas maiores do que as outras (III Jo. 9). Existem crentes que não querem fazer os trabalhos menos visados da igreja. Eles adoram, como os fariseus, serem vistos pelos homens (Mt. 23.5). Devemos também ser confiantes, não nos espantar diante daqueles que resistem o evangelho (Fp. 1.18). O Senhor está do nosso lado, ainda que não nos isente de aflições, pois nos “foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele” (Fp. 1.29). A mensagem contemporânea, propagada na mídia, inclusive a pseudoevangélica, é a seguinte: “pare de sofrer”. Mas Paulo nos mostra que fomos chamados para sofrer por amor a Cristo (Jo. 16.33; Fp. 3.10; II Tm. 3.12). O Apóstolo revela sua identificação com os crentes filipenses, destacando que se encontra, com eles, no mesmo combate. A palavra em grego é agonia, fazendo alusão aos sofrimentos pelos quais passam aqueles que seguem a Cristo.
3. MARCAS DA UNIDADE CRISTÃ
Paulo chama os crentes filipenses à unidade, não à uniformidade, algo totalmente diferente. Deus não nos chamou para sermos todos iguais, a diferença é normal no corpo de Cristo. A unidade é uma atuação espiritual, que vem de dentro. Enquanto que a uniformidade é uma atuação humana, que vem de fora. Alguns líderes não suportam a diferença na igreja, querem que todos os membros sejam iguais a eles. De vez em quando aparecem na televisão pregadores que imitam até o tom da voz dos seus líderes. A igreja deve investir na unidade espiritual, a uniformidade eclesiástica pode ser uma doença, uma falta de espiritualidade. Paulo avalia se há realmente unidade na igreja de Filipos, por isso identificamos quatro “ses” em Fp. 2.1. Esses “ses” revelam as condições para a verdadeira unidade eclesiástica, pois sem conforto – paraklesis (Jo. 14.16), consolação – paramuthion (Rm. 5.5), comunhão – koinonia (At. 2.42), afetos – slanchma (II Co. 7.13-15) e compaixões – oiktirmos (II Ts. 2.16) não há unidade. A verdadeira unidade é consequência do fruto do Espírito, não existe unidade em uma igreja local na qual predominam as obras da carne (Gl. 5.17-22). O individualismo está destruindo a unidade em muitas igrejas locais, há comunidades em que a premissa é: “cada um por si e o diabo contra todos”. Paulo convoca os crentes filipenses a agirem de modo diferenciado, a viverem tendo “o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentido uma mesma coisa” (Fp. 2.2). Isso é unidade, não uniformidade, ninguém faz coisa alguma por “contenda ou por vanglória, mas por humildade” (Fp. 2.3), pautados no amor-agape (I Co. 13), concretizado na humildade. A falta desta traz sérios danos à igreja local, pois quando a vanglória assume o primeiro lugar, o resultado é cada um querendo ser maior do que o outro. Os discípulos de Jesus sofriam dessa doença espiritual (Mt. 18.1-4). Mas o Senhor os repreendeu, e foi mais além, dando-lhes um exemplo radical de humildade (Jo. 13.16,17).
CONCLUSÃO
O comportamento dos salvos em Cristo deve ser pautado pela humildade, cada um deve considerar “os outros superiores a si mesmo” (Fp. 2.3). O individualismo não pode predominar no corpo de Cristo, para tanto, cada um deve atentar não para o “que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp 2.4). Ao invés de destruir-nos mutuamente, devemos carregar as cargas uns dos outros, fazendo assim estaremos cumprindo a lei de Cristo (Gl. 6.2).
BIBLIOGRAFIA
MACARTHUR, J. Philippians. Chicago: Moody Publishers, 2001.
WIERSBE, W. W. Philippians: be joyfull. Colorado: David Cook, 2008.
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